12 de novembro de 2020

II EnFrente – 2020

O evento tem por objetivo geral discutir e compreender as vivências e os desafios atuais das mulheres que estão estudando e trabalhando nas áreas de Ciência e Tecnologia (C&T), refletindo sobre o contexto pandêmico e seus efeitos na carreira acadêmica, assim como reconhecer e valorizar nomes de mulheres na história dessas áreas.

A ciência e a tecnologia ainda são áreas a serem desbravadas por mulheres. Os estereótipos de gênero perpetuados até hoje contribuiram para a visão de que o público feminino deve ser direcionado para formação em áreas destinadas ao cuidado e atenção, enquanto que, para os homens, destinam-se as áreas que demandam racionalidade, sob a justificativa de que esses atributos são naturais de cada sexo. 

Desde o início da Revolução Industrial, a manipulação, o desenvolvimento e aperfeiçoamento de máquinas couberam majoritariamente aos homens, o que criou uma associação entre masculinidade e tecnologia que distancia mulheres da carreira de tecnologia até os dias atuais. 

Além de dificuldades como a conciliação da carreira com a maternidade e a dupla jornada feminina, a inserção das mulheres na C&T ainda se contrapõe ao machismo e ao racismo estruturais presentes tanto no mercado de trabalho quanto nas universidades.

Segundo estudo publicado pela UNESCO (2018), apenas 35% dos estudantes no mundo nas áreas de STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) são mulheres. No Brasil, apesar de representarem 54% dos estudantes de doutorado, as mulheres nas ciências da computação e matemática são menos de 25% do total; já nas áreas de saúde, elas representam mais de 60%. 

O Censo da Educação Superior (2016) expõe uma  situação ainda mais precária para as mulheres negras: na graduação, elas correspondem a 6% dos alunos matriculados entre 20 e 24 anos, enquanto mulheres brancas representam quase 7 vezes mais esse valor, cerca de 40%. Os dados também mostram que apenas 15% das bolsistas do CNPq são negras, e que, somando o número de mulheres pretas e pardas que possuem doutorado, o total não alcança os 3% dos docentes de pós-graduação no país.

Evidencia-se então a necessidade de políticas públicas de inclusão de mulheres na C&T para maior representatividade, com foco nas mulheres pardas, pretas e indígenas por questão de reparação histórica, e também de iniciativas para incentivar essa inserção em todos os níveis de ensino, estimulando o interesse das meninas nessas áreas e apoiando futuras profissionais de STEM.

Ao machismo e racismo institucionais, somam-se muitos outros desafios que as mulheres que destemidamente escolheram a carreira acadêmica enfrentam, incluindo os recentes contingenciamentos e cortes no orçamento de universidades. Ressalta-se também que elas foram prejudicadas desproporcionalmente pela pandemia de Covid-19 em relação a seus colegas homens, de acordo com a pesquisa realizada pelo grupo Parent in Science, em 2020.    

Dados do mesmo estudo apontam que, entre docentes/pesquisadores, alunos de pós-graduação e pós doutorandos de universidades brasileiras, 68,7% dos homens conseguiram submeter artigos científicos na quarentena, contra 49,8% das mulheres, com a queda do percentual para 47,4% quando se trata de mulheres com filhos.

Faz-se relevante então, discutir não somente a inclusão feminina nas áreas de STEM, mas também refletir sobre os desafios inerentes a suas trajetórias acadêmicas, e debater a necessidade de elaboração de políticas de permanência específicas para atender as demandas do cotidiano de mulheres na academia.

Nesse sentido, justifica-se o evento por proporcionar conhecimento e diálogo sobre assuntos de relevância tanto para o meio acadêmico quanto para o cotidiano social de alunos, servidores e comunidade. Para tanto, o evento será dividido em duas mesas de debates com convergência temática, junto a uma série de publicações no Instagram e Facebook do PET-PP no mês de novembro para divulgar pioneiras na C&T, assim como pesquisadoras e jovens cientistas que enriquecem essas áreas atualmente. 

“As políticas sociais são ferramentas fundamentais para sanar essas desigualdades. A ciência é melhor quando existe uma diversidade. Não só uma ciência de homens brancos” (Moema de Castro, pesquisadora de gênero, trabalho e família na UFRRJ)

NICOLIELO, Bruna. Por Que o Machismo Cria Barreiras para as Mulheres na Tecnologia. Programaria. Disponível em: <https://www.programaria.org/especiais/mulheres-tecnologia/ >
ACHUTTI Camila. Queremos mais mulheres na tecnologia já! Revista Época. 2019. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/colunas/Novos-tempos/noticia/2019/03/queremos-mais-mulheres-na-tecnologia-ja.html>
LOPES, Larissa. Precisamos entender o que está por trás da ausência de meninas em STEM. Revista Galileu. 2020. Disponível em: <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2020/02/precisamos-entender-o-que-esta-por-tras-da-ausencia-de-meninas-em-stem.html>
EDITORIAL. Mulheres Na STEM. Baobá – Fundo para Equidade Racial. 11 de abril de 2018. Disponível em: <https://baoba.org.br/mulheres-na-stem/>
REDAÇÃO. Mulheres na ciência: os desafios e conquistas de ontem e hoje. Observatório 3º Setor. 2019. Disponível em: <https://observatorio3setor.org.br/carrossel/mulheres-na-ciencia-os-desafios-e-conquistas-de-ontem-e-hoje/>
BOFILL, Maria Eugenia. Raça e gênero impactam na produção científica na pandemia, aponta pesquisa de projeto do RS. G1. 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/08/04/raca-e-genero-impactam-na-producao-cientifica-na-pandemia-aponta-pesquisa-de-projeto-do-rs.ghtml>

 

Painel: Mulheres na C&T: conquistas, vivências e desafios na carreira”

Painelistas: Marília Abrahão Amaral, Maria Fernanda Azolin, Ana Carla Cordeiro 

Mediação: Thaise Muraro (PET PP)

O objetivo do painel é debater a baixa representatividade feminina nas áreas de STEM, discutindo estereótipos e preconceitos históricos, e a necessidade de políticas e iniciativas  para mudar o cenário atual, assim como refletir sobre os desafios da carreira acadêmica de mulheres na C&T, incluindo as conciliações e concessões em questões como maternidade e dupla jornada, e as experiências das painelistas e da audiência.

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Painel: Avanços, perspectivas e presença das mulheres negras na ciência e tecnologia

Painelistas: Rita de Cássia dos Anjos, Ágatha Serafim, Cristianara Silva

Mediação: Thaise Muraro(PET PP)

O objetivo do painel é debater as realidades de mulheres negras na C&T e a necessidade de políticas e iniciativas para sua inclusão, não só como reparação histórica, mas para o enriquecimento das áreas de STEM, além de discutir o racismo estrutural, que implica em menos oportunidades no mercado e salários menores em comparação a mulheres brancas, e institucional, pois a disparidade de raça e gênero nas universidades indica que as acadêmicas negras enfrentam obstáculos muito maiores do que as brancas e os homens.

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